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Fonte de D. João

Interessante conjunto monumental Neoclássico de reminiscências neopalladianas, oitocentista. Em menções mais antigas aparece também mencionado como o “Paredão das Taipas”.

Numa análise atenta ao conjunto, e à sua composição, ressalta à vista que é composto por quatro corpos distintos: um ao qual foi adossado posteriormente o edifício da Pensão Vilas, separado do seguinte corpo por uma pequena escadaria, e os corpos propriamente ditos centrais, dois deles com lápides evocativas, sendo o do meio com um corpo convexo onde se encontra a fonte de água, sendo todos os corpos encimados por pináculos nos cunhais. Provavelmente, e atendendo à composição do conjunto, haveria um quinto corpo também com uma escadaria a separar e uma continuação do paredão que deverá ter sido demolido/aterrado com as mutações urbanísticas operadas na Vila posteriormente. Pelo menos em fotografias mais antigas, na versão original da estrada, aparece um muro em declive em tom de arremate final ao conjunto. Na base do conjunto, a todo comprimento, uma base em silhar lavrada de grandes dimensões, com um conjunto de duas escadas simples separadas entre si por intervalos.

Como o nome antigo indica, “Paredão”, seria uma estrutura monumentalizada para retenção de terras, cujo objectivo provável seria a criação de um típico “Terreiro” característico do planeamento urbano tradicional português da Idade Moderna. No fundo os “Terreiros” operavam como praças públicas da altura, sendo importantes espaços de eventos e socialização.

Focando a atenção nos corpos centrais, onde se encontram as epigrafes, podemos observar na lápide da esquerda a seguinte inscrição: “Joam primeiro rei do reino unido/ para que a morte mais troféus não conte do que o inexaurível/ salutar bebida esta levanta milagrosa fonte.” e do lado direito: “Eras vindouras dezei aos homens/ dos Barões claros desta obra haviam/ Souza procurador, Luís Estêvão, Couto Pinto, Athayde“.

Analisando estas epígrafes, e fazendo contraste com a epígrafe oitocentista presente em outro monumento da Vila, a Ara de Trajano, podemos concluir através do cruzamento de dados, que os promotores da construção deste fontanário são efectivamente os mesmos elementos do executivo municipal, pelo que se pode aventar a data da construção do fontanário em 1818. Outro facto curioso, que este conjunto monumental transmite, é que há uma hipótese forte da existência de um patrocínio da coroa à construção dos balneários termais e a equipamentos como esta fonte, o que demonstra bem, nesta situação, a importância das nascentes de água termal das Caldas das Taipas no panorama nacional de então. Alguns autores antigos, erradamente mencionam esta fonte como uma menção honorífica a D. João I de Portugal, O De Boa Memória, no entanto documentalmente não há qualquer correlação deste monarca com o termalismo, nem tão pouco com a Vila das Caldas das Taipas. O Monarca mencionado na fonte,é sim D. João VI de Portugal, mencionado em fontes coevas também como D. João I do Reino Unido de Portugal e do Brasil, aquando o episódio de elevação do Brasil à condição de Reino, e a respectiva união dinástica com Portugal.
Na parte central, inserido no corpo convexo, estão as bicas em forma de delfins entrelaçados. Apesar da sua proximidade com o “Campo das Caldas”, designação antiga para o local onde se encontram actualmente os Banhos Velhos, a água que brotava da fonte não era água termal, mas sim água de nascente, “bastante leve e muito fria” segundo as pessoas mais antigas. Actualmente encontra-se desactivada.

A par da Ara de Trajano este local constitui também um marco histórico importante na Vila, pois celebra mais uma vez a construção dos primeiros balneários e equipamentos de apoio ao termalismo que porporcionaram o catapultar da Vila de uma simples freguesia perdida no Minho para uma Estância Termal de escala nacional, facto que colocou as Caldas das Taipas no mapa.

 

Por: Nuno Alves Pinto